quinta-feira, 27 de maio de 2010

O CÃO DE MOZART

Mozart talvez seja o mais popular dos músicos eruditos. Embora sempre cercado pelas maiores dificuldades e tendo vivido uma existência relativamente curta, criou composições alegres e geniais, sendo a sua musica considerada como verdadeira exaltação a vida.

Sem duvida uma ótima maneira de definir a sua obra, é a sentença que diz: “Quando os anjos tocam para Deus, eles executam Bach, mas quando tocam pelo seu próprio prazer eles tocam Mozart”.

Joannes Crysostomus Wolfgangus Theophilus, mais conhecido como Amadeus Mozart, nasceu numa cidade da Autria em 27 de Janeiro de 1756,e conta-se que ainda criança, num domingo, ao voltar da missa ,seu pai Leopold encontra o filho todo manchado de tinta,a rabiscar furiosamente suas folhas de partituras. Antes de repreende-lo, porem, percebeu que o menino acabara de compor um concerto para cravo. “Mas isto não é muito difícil de se executar?”pergunta o pai. Mozart responde que não, e senta-se ao piano para executar a obra com a maior facilidade, deixando boquiabertos o pai e um amigo que estava presente.

Mozart jamais foi a escola ou teve outro professor que não fosse o próprio pai. Aos sete anos já compunha, tocava cravo, órgão e violino, já tinha também tocado para o Imperador Francisco l,que o chamou de pequeno mágico. No ano de 1764 sua família muda-se para Londres, onde Mozart compõe a sua primeira sinfonia. É nesta época que, influenciado por Johann Cristian Bach (filho de Johann Sebastian Bach) Mozart se apaixona pela ópera italiana.

Entre meados de 1765 e final de 1766, os Mozart (pai e filho) atravessam a Europa: Inglaterra, França, Bélgica, Holanda, Suíça e Alemanha. No ano de 1768, já de volta a Viena, compõe sua primeira Opera bufa “La Finta Semplice”, nesta época ele tinha apenas 12 anos. No ano seguinte viaja pela Itália, fazendo muito sucesso entre os italianos. Na capela Sistina, Mozart ouve um dos corais mais celebres de toda a Europa, o Miserere, de Allegri, cuja composição era guardada em segredo, sendo os próprios cantores impedidos de transcreve-la, sob pena de excomunhão. Ouvindo-a apenas uma vez, Mozart memoriza as nove vozes e as coloca na pauta. Quando todos esperavam o contrario, o Papa parece não se incomodar e ainda lhe concede o titulo da “Ordem da Espora de Ouro”.

Aos 16 anos de idade, Mozart já havia composto mais de 200 obras musicais da melhor qualidade, demonstrando um grau de genialidade em suas composições.

Fascinado pelo mito do eterno amante, Mozart compõe muito e se inicia numa vida amorosa desregrada. Em 1781 retorna para Viena e casa-se com a terceira filha da família Weber, cujo nome era Constance.

O casamento duraria nove anos e meio, até sua morte, que ocorreu nas primeiras horas do dia 5 de Dezembro de 1791. Ele tinha 35 anos de idade, tendo alguns considerado um milagre ele ter chegado a esta idade, pois pela vida desregrada que levava já havia tido as piores doenças da época.

Quando morreu, chovia muito e estava sozinho com a esposa, já muito doente. Quatro homens foram contratados para levar o caixão até o cemitério, no que foram seguidos apenas pelo seu cão, que uivava muito. Depois que os coveiros se afastaram, o cão deitou-se sobre a cova, e ali ficou, uivando, até que morreu.

Dias depois, a viúva procurou a sepultura, mas ninguém soube informá-la qual seria, apenas um dos coveiros lembrou-se que o cão havia morrido sobre ela, mas depois foi retirado e atirado ao lixo.

Deste modo, não se soube jamais, onde foi enterrado o grande músico. Tudo porque, comentou um dos seus biógrafos, um cão mostrou uma sensibilidade humana, quando cada amigo de Mozart procedeu como um cão.

CÁLICE ou CALE-SE


A moderna musica popular brasileira deve as gerações, pós – bossa nova e pós festivais, quase tudo o que aconteceu de melhor em termos de criação e qualidade,entre os anos1973 – 1985. Mesmo sofrendo o impacto enorme da censura, que esmagava e tolhia quase todo o espírito criativo, a maioria de nossos jovens compositores,manteve-se em continua atividade,criando coisas lindas,pouco se deixando influenciar pelas misérias de um autoritarismo que chegava algumas vezes as raias da selvageria e até irracionalidade.

Figuras de destaque,desde o inicio de suas carreiras, nomes como: Chico Buarque,Caetano Veloso,Gilberto Gil,Edu Lobo,Milton Nascimento, Geraldo Vandré, são referencias valorosas,que a par de seu talento espetacular ainda, possuem um passado de lutas racionais e extremamente corajosas,contra um movimento que não tinha nenhum escrúpulo em ¨providenciar¨o desaparecimento sistemático de pessoas que não aceitassem pacifica e covardemente,os princípios imperialistas e ditatoriais dos donos do poder,cuja prepotência entrou melancolicamente para a nossa historia. Para discordar publicamente daqueles princípios expostos pela ditadura, era necessário coragem,muita fibra, muita brasilidade.

Nesta época, a censura imposta pelos militares era violenta e constante. Jornais, Rádios, TVs, Teatro, tudo censurado sem nenhuma contemplação.

Cálice, uma composição de Chico Buarque e Gilberto Gil, é um exemplo de letra elaborada com o objetivo comum entre nossos compositores de burlar a censura, na época em que foi feita(1973). Na verdade, Cálice destinava-se a um evento promovido pela Polygram, que deveria reunir em duplas, os maiores compositores do elenco da gravadora. A musica inicialmente deveria ter como interpretes os seus compositores, Chico Buarque e Gilberto Gil. A composição nasceu de um encontro casual, no apartamento de Chico, na época na Lagoa Rodrigo de Freitas. Gil mostrou os versos que havia feito na véspera, uma sexta-feira da Paixão. O refrão deixou Chico encantado: ¨Pai,afasta de mim este cálice/ De vinho tinto de sangue.¨uma obvia alusão a agonia de Cristo no Calvário. A ambigüidade foi imediatamente percebida por Chico: (cálice/Cale-se) Gil trouxera ainda a primeira estrofe da composição ¨Como beber desta bebida amarga/Tragar a dor,engolir a labuta/Mesmo calada a boca,resta o peito/ Silencio na cidade não se escuta/De que vale ser filho da santa/Melhor seria ser filho...da outra/ lembrando uma bebida amarga muito em moda na Itália,chamada Fernet., era oferecida as visitas,quando o barulho de Roma diminuía e se permitia ¨ouvir¨ o silencio. A intenção dos compositores fica evidente quando o ¨silencio¨ é considerado a liberdade de expressão,e não era permitida pelo ¨barulho¨ que se deveria entender como a atuação da censura que não permitia a liberdade de expressão.

Deste primeiro encontro, e de outros mais que aconteceram dias depois, nasceram a melodia e as outras estrofes – quatro no total – sendo a primeira e a terceira de Gil e outras duas de Chico. No dia do lançamento da musica, num show lotadissimo, com uma platéia repleta de uma juventude cada dia mais carente de liberdade, ao iniciarem o canto de Cálice, a censura cortou o microfone. Gil ficou irritadíssimo, e Chico aproximou-se do outro microfone de palco,que também foi cortado,impedindo ambos de cantar a canção até o fim,diante de um publico que vaiava alucinadamente.

Cinco dias depois, a censura liberou a canção, que foi incluída no LP que Chico gravava anualmente, mas com a saída de Gilberto Gil da gravadora Polygram, a participação de Gil, foi substituída por Milton Nascimento, que a gravou com Chico Buarque. Foi esta uma época que embora tenha sido algo tumultuada por algumas circunstancias, passou para a historia por produzir uma elite de grandes compositores que até hoje enaltecem a verdadeira Musica Popular Brasileira.

O PADRE FOFOQUEIRO

Nas minhas andanças pelo interior do estado, por força da minha profissão, conheci pessoas das mais diferentes formações, crenças e atitudes. Algumas, por serem muito especiais, marcaram a minha vida, como aconteceu com um velho padre, figura simpática e sempre risonha, que aparentava ter mais de 80 anos, mas sempre bem humorado e alegre com todos. Era muito querido em sua comunidade, e sua igreja estava sempre cheia de fieis, que demonstravam ter muito carinho, pelo velho sacerdote.

Desde nosso primeiro contato, percebi que o velho padre era um líder natural naquela comunidade. Também nos poucos dias que ali permaneci, pude verificar o grande numero de pessoas que o procuravam com os mais variados problemas. Sua disposição para atender os necessitados, era alguma coisa de contagiante. Notei também, que quando as pessoas o encontravam na Igreja ou em alguma das obras assistenciais que ele dirigia, quase sempre queriam ter uma conversa em particular com ele. Diziam sempre que o procurariam depois, em sua casa, e ele sempre sorridente,demonstrando uma felicidade que realmente deveria estar sentindo, respondia: -¨ Isso mesmo, passe lá em casa. Vamos tomar um cafezinho e falar mal da vida alheia... A final somos só nos dois pra falar do mundo todo, e todos pra falar de nos dois...a desvantagem é grande... ¨ Como esta resposta era mais ou menos constante... fui ficando intrigado. A mim, não me parecia comum, um líder religioso gostar de falar mal da vida alheia. Seria isto correto?

Um sábado a tarde, estando eu sem fazer nada, lembrei-me do padre e resolvi visitá-lo em sua casa. Recebeu-me muito bem, todo sorridente, mandou servir café com bolo de Fubá, e passamos a conversar sobre amenidades, coisas da vida. Em determinado momento, não resisti e perguntei-lhe o porque daquele procedimento que ele adotava com as pessoas que o procuravam. Extremamente simpático, deu uma sonora gargalhada, demonstrando estar admirado com a minha curiosidade. Depois, muito sério disse: -¨ Olha meu filho. O maior perigo que a criatura humana enfrenta, é a maledicência, o mau uso da língua. A língua é tão perigosa que Deus, em sua magnífica sabedoria, a colocou em uma caverna,- Que é a nossa boca – E a prendeu entre grades, que são os nossos dentes. Mas o homem não observa estes freios, e ao menor deslize de seu semelhante, liberta a língua e solta veneno sobre o infeliz. A língua, meu filho, é perigosíssima, quando mal utilizada. E tem um agravante –Continuou – o homem gosta de fofocar. A fofoca é hoje uma instituição internacional. Até entre as nações, existe fofoca. Imagine então aqui, uma cidadezinha pequena, onde todos se conhecem o perigo que isto representa. Então,quando querem falar comigo,querem na realidade falar de seus conflitos, se queixar de quem eles julgam ser os causadores de seus problemas: um vizinho,um amigo,a mulher, o marido,a sogra...nunca eles próprios. Sempre tem alguém que consideram responsável pela sua desdita. Comigo,eu os deixo falar a vontade,até se sentirem satisfeitos,saciados,e até concordo com eles. Ficam felizes, realizados, e antes de irem embora, eu digo que eles tem razão, mas como são bons cristãos, devem perdoar e não comentar com outros, o seu padecimento. Desta forma, uma queixa que se transformaria em fofoca, morre aqui comigo e não se espalha.

Meu filho...se eu contasse tudo que já ouvi,aqui nesta casa,a cidade no mínimo explodiria.. é um trabalho triste e penoso,mas enormemente compensador pelo alivio que traz pela alma que se alivia.¨ concluiu com um largo sorriso.

Olhei para aquele homem bom e sincero que estava a minha frente, sem poder desviar os olhos por alguns momentos. Senti que estava diante de um verdadeiro cristão.

Depois de algum tempo deixei aquela pequena cidade por força do meu trabalho, não sem antes ir até a igreja para abraçar o velho padre,que um dia,injustamente eu imaginei fosse um grande fofoqueiro. Destes fatos, já se passaram muitos anos, mas até hoje recordo da lição que aprendi, e da realidade em que me foi dita, naquela época. Na verdade, os relatos que nos chegam com relação a problemas, são quase sempre queixas veladas sobre o comportamento de alguém. Nunca vi, ou ouvi alguém se queixar de si mesmo, como causa das próprias aflições. São sempre os outros... Estas almas encontram na critica ao semelhante,um meio de desculpar os seus próprios enganos, e faltas.

APESAR DE VOCÊ (1970)

Em agosto de 1959,a gravadora Odeon,lançou um compacto simples,que iria revolucionar a musica popular brasileira. Na face do lado ¨B¨a composição do cantor João Gilberto ,¨Bim Bom¨ e na face ¨A¨ a hoje histórica ¨Chega de Saudade¨ de Tom Jobim e Vinicius de Moraes musica que 51 anos depois, ainda esta influenciando músicos, de todo o planeta. Fazia pouco tempo que nosso pais havia visto nascer uma nova e talentosa geração de novos compositores, isto quando mal saia do governo do Dr. Juscelino Kubitschek de Oliveira (1956-1961) e também da segunda grande guerra mundial. No Brasil, o estado de direito ainda engatinhava, quando foi sacudido pelo trauma do suicídio de Getulio Vargas,em 24 de agosto de 1954. Mesmo com as tentativas da UDN e do jornalista Carlos Lacerda de impedir a posse de Juscelino, ele foi eleito, e tomou posse precisamente a 31 de janeiro de 1956. O novo presidente, com sua visão de estadista, imediatamente solicitou ao congresso a suspensão do estado de sitio, e aboliu a censura a imprensa.

O Brasil atravessava uma fase de razoável desenvolvimento econômico, e também de verdadeira euforia cultural. Nosso cinema vivia uma época de modernismo e grandes novidades, Exemplo: ¨Rio 40 Graus¨de Nelson Pereira dos Santos,que seria reconhecido como o marco inicial do que se convencionou chamar de ¨Cinema Novo¨. Nosso teatro também dava show, com Gianfrancisco Guarnieri encenando a peça ¨Eles não usam Black Tie¨. Em S.Paulo no ano de 1958 se criava o teatro oficina. Na Suécia o Brasil lavava a alma de todos os brasileiros com um verdadeiro¨balé¨de futebol,encenado por Pelé, Tostão, Gerson e o verdadeiro mago apelidado de Garrincha. Era o Brasil dos nossos sonhos, que estávamos vivendo, naquela época.

Neste tempo, Chico Buarque de Holanda era um adolescente, nascido no Rio de Janeiro no dia 19 de junho de 1944. Foi o quarto filho entre os sete que tiveram o casal Sergio Buarque de Holanda – Historiador – e D. Maria Amélia Cesário Alvim. Dois anos depois, Sergio foi convidado para dirigir o Museu do Ipiranga e a família então mudou-se para a capital de S.Paulo,onde nasceram as três irmãs mais novas de Chico.

Em 1961 assume a presidência da Republica, o ex governador de S.Paulo, Jânio Quadros, que renuncia, após sete meses de mandato. Assume o vice, João Goulart,mal visto pelos militares que o consideravam homem de esquerda. Em 1963, Chico ingressa na FAU – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de S.Paulo) mais por falta de alternativa do que por opção. S e engaja no movimento estudantil, definitivamente contra o golpe de estado,que depõe João Goulart em 31 de março de 1964.

Com a revolução,o sol de liberdade que iluminava os céus do Brasil,foi turvado pelas nuvens escuras do autoritarismo,da perseguição, da truculência. Centenas de brasileiros foram perseguidos,e alguns desapareceram para sempre.Parte da nossa intelectualidade e boa parte dos artistas jovens e conscientes,tiveram que buscar abrigo em outros países,como Caetano Veloso,e Gilberto Gil,que foram morar na Inglaterra. Chico, Toquinho foram para a Itália,alem de outros mais. Chico embarcou para a Itália no dia 13 de dezembro de 1968,para gravar um disco,e resolveu ficar por lá até março de1970,esperando que as coisas por aqui,¨esfriassem¨ um pouco

Sua volta se deu por conta do apoio que recebeu de André Midani, diretor de sua gravadora, que lhe assegurou estarem as coisas por aqui, ¨Melhorando¨,fato que Chico constatou ser o inverso,quando aqui chegou. Imediatamente, externou seu desapontamento,com a composição ¨Apesar de Você¨que entre outras coisas afirmava: ¨Você vai pagar,e é dobrado/Cada lagrima rolada/ Neste meu penar.¨

Por incrível que pareça, este destemido recado a ditadura,passou pela censura,e foi lançado por Chico num compacto simples, que estourou nas rádios e vendeu de cara algo em torno de cem mil discos,até que a ditadura entendeu o recado,proibiu a musica, e recolheu e quebrou todos os discos. Mas esqueceram-se de quebrar a matriz, que imprimiu alguns milhares de novas cópias, tão logo a ¨tempestade passou¨.

O SONHO DE MARTINHO LUTERO

O movimento religioso que se convencionou chamar de Reforma Luterana,ou Protestante, nasceu das conclusões do jovem Matinho Lutero, atravez de seus estudos,de que a salvação das criaturas,não deve e nem pode processar-se por si mesma. A salvação, segundo este entendimento, somente será dada em Cristo, unicamente pela Graça e aceita, somente pela fé. Parecendo bastante simples em principio, esta teoria biblicamente fundamentada, originou uma nova vizão no entendimento de parte da Igreja, do sacerdócio, dos sacramentos,da espiritualidade, da devoção,e da conduta moral e ética do mundo.O homem que levantou tamanha questão pondo em cheque conceitos tão tradicionais, aceitos já a milhares de anos por uma parte considerável dos cristãos,tem um nome: Martinho Lutero.

Lutero nasceu na Alemanha, num lugar chamado Eisleben, no dia 10 de novembro de 1483. Sempre muito preocupado em viver de forma correta garantindo a salvação de sua alma, ainda jovem, decidiu tornar-se monge. Durante seus estudos religiosos, perguntava-se constantemente: ¨Como posso conseguir o perdão e o amor de Deus?¨ Com o passar dos anos,sempre mergulhado em livros,concluiu que para ganhar o perdão de Deus, não precisava castigar-se. Bastava apenas que tivesse uma fé absoluta no criador ;e com isso,ele que inicialmente era católico,não estava inventando uma nova religião,apenas retomando algumas máximas bíblicas,que a igreja foi deixando de lado, ao longo do tempo.

Com o propósito de tornar publicas suas idéias, elaborou 95 teses reunindo o mais importante de suas conclusões teológicas,e fixou-as na porta da igreja do castelo de Wittenberg, isso no dia 31 de outubro de 1517. Com esta atitude, pretendia abrir um debate com os maiores de sua igreja, pois achava que ela deveria ser renovada a partir do evangelho de Jesus Cristo.

Em pouco tempo toda a Alemanha tomou ciência do conteúdo destas teses e elas se espalharam também para o resto da Europa. Embora tivesse sido precionado para abandonar sua teorias – revolucionarias para a época – não abriu mão de suas

convicções,embora por causa delas tivesse sido excomungado e cassado nos seus direitos de católico. Com o advento e facilidade da impressão de textos em serie, recém surgida, o movimento da reforma espalhou-se rapidamente, e em 1530 os lideres protestantes (assim chamados agora) escreveram a ¨Confissão de Augsburgo¨ que resumia os elementos doutrinários,fundamentais do protestantismo.

Em 1546, Martinho Lutero faleceu. Tinha apenas 62 anos de idade, e tal fato se deu em 18 de fevereiro daquele ano. Finalmente em 1555,o imperador reconheceu que na Alemanha,haviam duas diferentes vertentes religiosas:A católica e a Luterana.

¨Conta-se que certa vez Lutero sonhou. Encontrava-se defronte os portões majestosos que dão acesso ao céu, e que eram guarnecidos por dois anjos reluzentes e de extrema beleza. Aproveitando aquela oportunidade de encontrar-se nos umbrais dos taberná culos eternos, aproximou-se de um dos anjos guardiões e perguntou:

-¨ Estão ai no céu,os protestantes?¨

-¨ Não todos,alguns apenas.¨-respondeu o anjo.-

-Que me dizes?! Os protestantes não alcançaram a salvação, mediante o sangue de Cristo?

-Como lhe disse, meu irmão, aqui estão apenas alguns dos protestantes.

-Será então,que ai estejam os católicos – romanos,membros da igreja que abjurei?

-Também desta igreja existem aqui, alguns poucos. Não todos.

-Então quem sabe, os partidários de Buda ou Maomé?

-Sim de ambas existem também alguns adeptos. Apenas alguns...

Intrigado, Lutero então indagou ao porteiro celeste:

- Dar-se-a acaso, que o céu se encontre quase desabitado? Dize-me então, por favor, anjo do senhor, de que igreja são os seguidores que se salvam em sua maioria?

-¨De nenhuma e de todas¨-respondeu o anjo. Aqui, não se cogita de nomes e títulos. Levamos em conta apenas, aqueles que visitam as viúvas, os órfãos em suas aflições, e respeitam ao senhor na pessoa de seus semelhantes. Estes são os que entram no céu com livre acesso.

O PIRATA

Vamos supor que existam três sapos numa folha, e um deles decida pular para a água.Quantos sapos restam na folha? Resposta certa: três sapos, porque um deles apenas decidiu fazer isso, porem nada indica que o tenha feito. Nós os seres huma nos,não somos como o sapo,muitas vezes? É comum dizermos que vamos fazer isso

mais aquilo,e acabamos não fazendo nada. Durante nossa vida, temos que tomar muitas decisões, algumas fáceis, outras mais difíceis. Grande parte dos erros que cometemos, e principalmente dos resultados que conseguirmos, dependerá da nossa atitude,no momento certo.

Tudo na vida implica em possíveis erros, que cometemos quando indecisos ou omissos.

As conseqüências de nossas atitudes nos trazem resultados com as quais temos que conviver,as vezes pelo resto de nossos dias. Mas temos que arriscar.Expor sentimentos por exemplo,é arriscar-se a ficar exposto aos olhos dos outros. Rir,é correr o risco de parecer tolo. Chorar,é correr o risco de parecer excessivamente sentimental. Então o que fazer; como agir? A escritora norte americana Marjorie Wally,demonstra num conto que escreveu, que as crianças,com sua inocência e sinceridade,podem ensinar e muitas coisas,se hás observarmos bem. Vejam a historia: ¨A senhora Smith estava sentada na ante sala do consultório médico aguardando a vez de ser atendida, quando um garotinho e sua mãe entraram. O menino chamava a atenção, porque usava um tapa-olho. Ela achou muito bom que o garoto brincasse a vontade, sentado no chão do consultório, parecendo que o tapa-olho não o incomodava em nada. ¨-Ele deve ter superado muito bem o seu problema, ao contrario do que ocorre comigo.¨

Como o consultório não estivesse muito cheio aquele dia, a senhora Smith esperava a sua consulta para avaliar a cicatrização de seu joelho,para que os médicos pudessem encaixar uma pròtese. Ela havia perdido a perna,do joelho para baixo,num acidente de carro, e depois disso mesmo tentando ser corajosa,perdera a alegria de viver sentin

do-se uma invalida,na verdade. A perda,fora devastadora para ela,embora todo o

apoio recebido dos familiares e dos médicos,não conseguia aceitar,em sua cabeça, aquela triste realidade de agora.

Finalmente,a senhora Smith teve oportunidade de perguntar ao menino,o havia acontecido com o seu olho. Ele analisou a pergunta por algum tempo,e com a graça natural de uma criança de 4 anos respondeu : - Não há nada de errado com o meu olho...É que eu sou um pirata! Disse isso,e voltou a brincar com seus soldadinhos de plástico. A senhora Smith levou um choque. Parecia que Deus falara com ela, através daquela criança, para convoca-la para a vida. Sentiu um misto de vergonha e alegria ao mesmo tempo. A palavra ¨Pirata¨ dita por aquela criança, mudou radicalmente sua

postura diante do problema que antes parecia insolúvel. Viu-se vestida como Long John Silver de pé, no convés de um navio pirata.Parada, com as pernas abertas, sendo que uma das pernas era de pau,e ela tinha imenso orgulho disso. As mãos seguravam os quadris, a cabeça levantada,ombros para traz, e ela sorrindo no meio da tempesta

de,enquanto ventos com a força de um furacão,chicoteavam seus cabelos e o rosto. Água gelada passava por cima da balaustrada do convés,se quebrando contra o navio. O barco balançava e gemia sob a força da tempestade,mas ela impávida o mantinha firme,com mãos de ferro segurando o leme. Afinal,era era quem deveria determinar o rumo do seu barco, assim como o rumo da sua vida. Como num passe de mágica, sentiu-se corajosa e muito confiante novamente.

Olhou para aquele garotinho que inocentemente brincava com os soldadinhos no chão, a quem tanto,agora se sentia agradecida. Neste instante,a enfermeira chamou-a para ser atendida. E quando ela balançou as muletas levantando-se, o menino percebeu a sua amputação e disse: ¨ Ei moça! O que há de errado com sua perna? A mãe do menino que tudo observava, ficou petrificada.

A senhora Smith olhou por um instante para a perna diminuída, que até alguns instantes era motivo de tanto sofrimento, sorriu calmamente e disse :

- Nada querido...É que eu também sou pirata!

O MENINO DE ROUPA VERMELHA

O garotinho Clécius,nasceu infectado pelo vírus da AIDS herdado de sua própria mãe,uma jovem operária de origem pobre que mantinha a ela,e ao filho, com os minguados recursos provenientes de seu parco salário.

Desde o inicio de sua vida,o pequeno Clècius necessitava de medicamentos para sobreviver.

Aos cinco anos,a través de uma cirurgia,teve um cateter inserido em uma veia do seu tórax,para,infundir o medicamento em sua corrente sangüínea. O cateter èra conectado a uma bomba infusora, que o menino carregava em uma mochila, presa as costas.

Muitas vezes,ele também precisava de um reforço de oxigênio para ajudar em sua respiração,quando acontecia que, em suas brincadeiras,subitamente parecia que ia morrer sufocado sem ar para respirar. Este problema, era solucionado pelo tanque de oxigênio que carregava consigo, atravez de um carrinho.

Embora enfrentando todas estas dificuldades, o menino Clécius não abria mão de um minuto siquer de sua vida,por causa da terrível doença.Era comum vê-lo brincando e correndo com as outras crianças no pátio do modesto edifício onde morava com a mãe,tendo a mochila as costas e empurrando o carrinho onde estava o tanque de oxigênio. Todos os moradores do edifício de Clecius,ficavam maravilhados com a alegria do menino e toda aquela energia que ele transmitia as pessoas,que dele se aproximavam. Era muito bom estar perto de Clécius,pensavam todos.

A mãe do garoto, naturalmente o amava muito,mas freqüentemente reclamava da agitação do mesmo,que ela entendia exagerada. Parecia que ele tinha enorme pressa em viver,em aproveitar a vida em cada segundo,tirando o ,maximo que ela poderia lhe oferecer,numa gana de viver,que as pessoas saudáveis parecia sem explicação.

Mas para aquela mãe zelosa e também doente,toda aquela efusão de vida, aquela energia desmedida que vinha daquele pequeno ser, parecia exagerada e sem motivo, e para localizá-lo com maior facilidade entre as outras crianças do prédio, sua mãe o vestia de vermelho.

Chegou o dia porém, que a terrível doença venceu aquele pequeno dínamo que se chamava Clécius. Coincidentemente foram, ele e a mãe, internados no mesmo hospital com diferença de apenas algumas horas, um do outro. Sentindo que o momento estava próximo, sua mãe em sua última conversa com o menino procurou confortá-lo, dizendo-lhe que não sentisse medo, pois ambos se encontrariam lá no céu com toda certeza. O pequeno apenas assentiu com a cabeça, dando um triste sorriso, parecendo já esperar por esta hora.

Poucos dias antes de morrer,Clecius chamou a enfermeira que o assistia, e com voz muito debilitada sussurrou:

- “Sei que vou morrer logo, mas não estou com medo. Quando eu morrer, por favor me ponha uma roupa vermelha. Mamãe prometeu me encontrar lá no céu, mas sei que lá deve ter muitas crianças, e quando ela chegar eu devo estar brincando. Se eu estiver com a roupa vermelha, sei que ela vai me achar logo.”

O ESPELHO DO NICOLA

Nascido na velha Itália a muitos anos atrás, o velho Nicola é uma pessoa muito agradável, de fala mansa e calma, fato que contraria aquela impressão que quase todos nos temos, que italiano fala bastante e muito gesticula. Com Nicola é diferente, ele é calmo, não exagera nas gesticulações, e é muito sábio,diz coisas inteligentes.

Talvez por trazer consigo, os genes daquela cultura milenar da Europa, sua prosa é sábia, agradável e até instrutiva, por isso sempre que o encontro, procuro conversar com ele.

Em uma de nossas ultimas conversas, para provoca-lo, quis saber a sua opinião quanto ao sentido da vida, as razões de o homem viver sofrer e morrer, aqui na terra, onde aparentemente ninguém possui a felicidade plena. Qual seria o objetivo de Deus para tal atitude? Ele me disse:

“-Bambino, como você sabe, eu cheguei a este grande pais que é o Brasil, em 1947 pouco depois do fim da segunda grande guerra, e eu tinha na época 17 anos..era um garoto, sem família,sem ninguém que pudesse me ajudar.

Na Itália, no povoado em que eu morava, éramos muito pobres, mas éramos felizes, pelo menos antes da guerra.

Havia uma estrada de terra, que passava ao lado do povoado, por onde transitava muita gente, inclusive soldados apressados, nas suas atividades da guerra. Eu era pequeno, mas me lembro muito bem. Certo dia, uma motocicleta alemã, sofreu um acidente naquela estrada e juntou muita gente para ver e ajudar. Depois que todos foram embora, eu, com minha curiosidade de garoto fui lá olhar, e achei pedaços partidos de um espelho, que suponho fosse o retrovisor da moto.Tentei junta-los todos mas como era impossível, então guardei só o pedaço maior. É este aqui, que trago comigo até hoje, veja – Disse isso, retirando de uma carteira de couro surrado, um pequeno espelho redondo, do tamanho de uma moeda de vinte centavos.

O espelhinho esta redondo porque eu o esfreguei numa pedra, ate que ele ficasse assim redondinho. Comecei a brincar com ele, e descobri fascinado, que poderia atravez do espelho, reproduzir a luz do sol em lugares escuros como fendas, buracos,fundo de gavetas,onde o sol nunca brilhara antes.

Aquilo então virou um brinquedo para mim; levar a luz em lugares onde ela até então nunca havia brilhado, lugares inacessíveis que conseguia encontrar.

Passei a levar sempre o espelhinho comigo, e quando nada tinha para fazer,

continuava com o desafio do jogo. Quando virei homem, já aqui no Brasil, entendi que aquilo não era só uma brincadeira de criança, mas uma metáfora do que eu poderia utilizar como sentido para a minha vida.

É lógico que eu não sou a luz, e menos ainda a fonte dela, porque a luz verdadeira provem de Deus – a verdade, a compreensão, o conhecimento – estão ai para iluminar muitos lugares escuros, e o que eu posso fazer é procurar refleti-la.

Eu sou, “bambino”, apenas um fragmento de um espelho maravilhoso, do qual não conheço a forma, nem toda a finalidade. Mesmo assim, com o pouco que tenho, posso refletir a luz nos lugares escuros, sobretudo nos corações humanos, e com esta atitude, talvez acabe ajudando algumas pessoas a se melhorarem.

Quem sabe, outras pessoas me vendo fazer isso, e resolvam fazer o mesmo?

É para isso que eu vivo – disse o Nicola – “Este, bambino, o sentido da minha vida.”

NOEL DE MEDEIROS ROSA

A primeira emissora de radio, surgiu em nosso pais em 1923. Foi a radio Sociedade que iniciou suas atividades em setembro de 1923. A seguir a radio Clube do Brasil, em outubro do ano seguinte,1924. Todas de baixa potencia, e sem a estabilidade de uma publicidade estável e continuada, estas emissoras transmitiam apenas algumas horas por dia, e a custa de abnegados dirigentes, e colaboração espontânea de artistasque trabalhavam por puro amor a arte.

No inicio da década de 30 porem, o panorama começou a mudar. Tínhamos já, 4 estações de radio transmitindo regularmente, alem das duas primeiras já citadas, que foram as pioneiras, surgiram: a Mayrink Veiga e a radio Philips do Brasil,todas na cidade do Rio de Janeiro,então a capital do Pais. O radio, como veiculo de informação, começava a ocupar o seu espaço e as meninas agora já podiam escolher entre os galãs de cinema, e os “ases”do radio que surgiam. Neste tempo, surgiu Noel Rosa.

Dono de um talento enorme, sem precedentes até então, Noel compensava o seu problema físico – Tinha o maxilar direito afundado e uma paralisia parcial na face – conseqüência de um parto problemático, com um poder de comunicação nunca visto até a sua época.

Noel alem de grande compositor, também cantava, embora tivesse uma voz pequena para um tempo de vozeirões como Chico Alves,Vicente Celestino e outros. Sua maneira de “Dizer” as musicas, agradava ao publico, mas o grande sucesso mesmo, eram as improvisações que fazia com a musica - De Babado – usando-a para desafios em que participavam outros artistas como Almirante, Patrício Teixeira, Marilia Batista.

Nascido na famosa Vila Isabel subúrbio carioca, a 11 de Dezembro de 1910, era filho do casal Manoel e Martha de Medeiros Rosa, ela professora, ele agrimensor. O avô de Noel era medico, por isso os pais o colocaram na Faculdade de Medicina, na vã esperança que ele se formasse nesta profissão. Não deu certo. Abandonou a faculdade em 1932, se dedicando integralmente a musica e a boemia. D. Martha alem de profe ssora era apaixonada por musica, tocando bandolim nas horas vagas. O pai,Sr. Manoel alem de agrimensor, também tocava violão; por isso era muito natural que Noel e seu irmão Helio sofressem a influencia familiar, tornando-se ambos músicos.

A dificuldade para engerir alimentos sólidos, a vida desregrada dormindo pouco e alimentando-se mal, fizeram com que a saúde já precária de Noel, piorasse muito, sendo necessário tratamento constante, que ele começava e logo interrompia tão logo melhorasse. No dia 1 de dezembro de 1934, tentando esquecer a sua grande paixão,a bailarina “Ceci” que havia conhecido na zona boemia da Lapa, casou-se com Lindaura Pereira da Mota. Lindaura suportou estoicamente a vida com o marido, mas Noel não tinha cura; várias vezes saia com ela, e encontrando algum amigo ou amiga a abandonava no meio do caminho, desaparecendo com os companheiros.

Em 1937, mais precisamente no dia 4 de maio, Noel já muito doente e acamado era assistido por seu irmão Hélio, quando na casa visinha da sua, ocorria uma festa.

Por coincidência, tocavam uma musica que era composição de Noel. Súbito, o compositor sentiu-se mal, tentou virar para o lado e sua mão tamborilou por alguns momentos sobre o criado mudo, ao ritmo da música. De repente seu coração parou.

Estava morto Noel Rosa, o filosofo do samba, “O poeta da vila” cuja vida terrena durou apenas 26 anos e alguns meses, mas foi tão profícua, que deixou para a posteridade, clássicos até hoje regravados pelos nossos maiores cantores.

NELSON GONÇALVES

No dia 19 de abril de 1998, por volta das 21 horas, a Rede Globo de Televisão, atravéz de uma edição especial, informava a morte do cantor Nelson Gonçalves, vitima de insuficiência respiratoria, aos 78 anos de idade.

Com o desaparecimento de Nelson, considerado o ultimo dos grandes, encerrava-se um ciclo de ouro do radio brasileiro, quando predominavam os cantores de voz possante como Vicente Celestino, Francisco Alves, Orlando Silva, Carlos Galhardo, e Nelson Gonçalves.

Estes grandes nomes eram a alegria e o orgulho do povo brasileiro. Alguém muito importante disse certa vez, que pode se conhecer um povo, seus costumes, seus hábitos, sua felicidade, pela sua musica.

Se este conceito estiver correto, na época que estamos nos referindo o povo brasileiro deveria ter sido muito feliz, porque nossa musica neste tempo era com certeza uma das mais belas de todo o mundo.

Ao longo de sua fenomenal carreira, Nelson Gonçalves vendeu por volta de 52 milhões de discos, tendo recebido 20 discos de platina, e 40 discos de ouro, alem de gravar 112 lps, superando neste particular o cantor Elvis Pres ley que era o recordista norte – americano com 63 lps gravados.

Adelino Moreira foi o compositor que mais se identificou com Nelson, para quem fazia musicas desde 1950,quando se conheceram na Radio Nacional do Rio de janeiro.

Em 1956, quando o Brasil possuia por volta de 60 milhões habitantes,

“A volta do Boêmio” composição de Adelino, gravada por Nelson,venderia a espantosa quantia de 2 milhões de discos,aproximadamente.

Filho de imigrantes portugueses oriundos da cidade de Viseu, Nelson nasceu em Santana do Livramento, no Rio Grande do Sul, no dia 21 de junho de 1919, vindo para S.Paulo, capital, com apenas um ano de idade, para o bairro do Brás, onde cresceu. Quando morreu em 1998, tinha 78 anos idade e 58 de carreira artística, talvez a mais significativa de todas, entre os cantores brasileiros.

A família Gonçalves trouxe lá de Portugal, a tradição de cantores ambulantes. De manhãzinha saiam para as feiras livres ou praças publicas se apresentavam cantando. Depois corriam os pires, arrecadando as contribuições das pessoas que os assistiam.Destas apresentações participavam toda a família “seu” Manoel, a esposa, Quincas o filho mais velho e Nelson um garotinho com apenas cinco anos de idade. Seu Manoel havia fabricado um violão com 9 cordas,- o violão normal tem apenas 6 - As cordas adicionais eram bordões, acorda grossa de som grave. O pai de Nelson era fã do cantor Paraguaçu e interpretava praticamente todo o seu repertorio.Quincas cantava alguns fados lá da terrinha, mas Nelson era de fato a grande atração. Pequenino, magrinho, o garoto impressionava os assistentes pela voz possante para um menino que tinha de cantar sobre um caixote de madeira, de tão pequeno que era. Após o show recebia de seu Manoel 500 reis, para gastar em guloseimas.

Com 20 anos de idade, isso em 1939, resolveu fazer um teste Radio Piratininga, com o maestro Gabriel Migliore. Passou no teste, mas na estréia, estava tão nervoso que após ser anunciado pelo apresentador Aurélio Campos, não conseguiu articular palavra. Ficou total mente mudo, e tremia como vara verde.

A primeira gravação de Nelson Gonçalves foi a valsa “Se eu pudesse um dia” na gravadora RCA.Victor, onde ficou ate o fim de seus dias. O primeiro contrato lhe renderia 6oo.ooo reis por mês,mais 100 reis por disco vendido. Foi ao longo de sua carreira,um verdadeiro campeão na vendagem de discos e também de grandes sucessos. “Metralha” era o apelido carinhoso com era chamado por seus amigos e colegas,num tempo em que para se vencer no radio,era necessário possuir um grande talento. E Nelson Gonçaves sem nenhuma duvida o possuía sobremaneira.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

MARINGÁ

Maria do Ingá, seria uma bela cabocla dos sertões do nosso lendário e glorioso norte, que acossada pelo flagelo da seca, partiu juntamente com outros retirantes,em busca de paragens onde o céu fosse mais justo,e a terra menos desditosa. Como sempre acontece nestas situações, deixou um enorme vazio na alma apaixonada e melancolica de um bravo caboclo nordestino, que solitário lá ficou.

Este foi o tema escolhido pelo compositor e medico mineiro, Dr. Joubert Gontijo de Carvalho, para retratar (pela primeira vez) na musica popular brasileira, o tema que posteriormente foi exaustivamente explorado por outros compositores: a seca do nordeste brasileiro.

Considerada ¨a mais expressiva¨das composições de Joubert,seu sucesso em radio e disco foi tão grande, que acabou por ¨emprestar¨seu nome a uma cidade do estado do Paraná. Maringá, corruptela romântica de Maria do Ingá, recebeu ao longo do tempo, dezenas de gravações, inclusive no exterior. Musica concebida em estilo regionalista, Maringá, segundo os observadores da época, é a primeira composição a abordar o triste drama da seca nordestina, envolvendo a historia dos retirantes, que tem de abandonar sua querida terra, escorraçados por uma seca inclemente.

A bem da verdade, embora os méritos reconhecidos da composição, o grande sucesso de Maringá por ocasião de seu lançamento, deve-se também a interpretação marcante de Gastão Formenti – seu criador – que a gravou na RCA. Victor, acompanhado pela orquestra Victor Brasileira, regida pelo maestro João Martins, no dia 13 de Junho de 1932,portanto a quase 76 anos passados. O disco original de Gastão Formenti, recebeu o numero de serie 33568.

A companhia Melhoramentos Norte do Paraná havia loteado todo o território onde hoje se localiza a cidade de Maringá, com o objetivo de construir algumas casas onde pudesse alojar seus empregados. A área territorial era enorme (999 km quadrados a 555 metros de altitude). Durante o dia eram trabalhadores construindo uma pequena cidade. A noite, estes mesmos trabalhadores se reuniam ao redor da fogueira para cantar ao som de um violão,a saudade do lar,dos familiares que longe estavam.

-Como é o nome desta bela canção, que os operários estão cantando? Perguntou a sra Elizabeth, ao seu marido o inglês Henry Thomas, presidente da companhia, durante uma reunião onde se discutia qual seria o nome que dariam a nova cidade ¨ O nome é Maringá,respondeu o marido.¨ Então, o nome da musica é um lindo nome que se presta para uma bela cidade.¨ Sugeriu a inglesa,Dona Elisabeth.

Maringá foi reconhecido como distrito em 10 de maio de 1947 e elevado a município atravez da lei n.790 de 14 de novembro de 1951,com área deslembrada do município Mandaguari. Em 1957, o Dr. Joubert de Carvalho (autor da musica) recebeu um telegrama que o convidava para estar em Maringá aonde iriam homenageá-lo dando o seu nome a uma rua daquela cidade. Para tanto, havia um avião a sua disposição. A antiga rua Bandeirantes, a partir daquela data, receberia uma placa de bronze, onde se lia: Rua Joubert de Carvalho – compositor da musica Maringá,que deu nome a cidade.

Lembrava o Dr Joubert de Carvalho:¨ Ao chegar em Maringá, acompanhado de familiares e alguns amigos,encontrei uma cidade linda, com faixas que me saúdavam. Presentes, o prefeito, o arcebispo e uma enorme multidão. De repente,vem um sujeito alto,com uma criança no colo. Ele atravessou toda aquela multidão,porque queria me cumprimentar. Chegou perto de mim,levantou a criança e disse: Beija o Dr. Minha filha. Foi ele que fez a musica da nossa cidade. A emoção foi enorme, indescritível mesmo.¨

Depois de vários discursos e homenagens, os festejos culminaram com um banquete no Rotary Club local, e mais: a promessa de Joubert de Carvalho, de voltar anualmente a Maringá, no aniversario de sua fundação.

Esta é mais uma história, onde a musica acaba inventando a realidade.

LUCHO GATICA - O TROVADOR DAS AMÉRICAS

Foi em 1955 mais precisamente em abril daquele ano,que Rubem Braga, cumprindo missão diplomática em Santiago do Chile, tomou conhecimento de um cantor jovem que estava surgindo naquele pais,e que fazia sucesso no radio , boates e casas noturnas do Chile.

Através da revista Manchete, Rubem alertava os seus irmãos brasileiros, que prestassem atenção àquele jovem cantor de boleros, que pela sua vóz e também pela forma de cantar, parecia "acariciar" as palavras das canções que interpretava.

Ainda segundo Rubem, para avaliar Lucho Gatica - pois era este o nome do moço - seria necessário ouvi-lo cantar "Besame Mucho" um clássico da musica latino americana, para poder entender as características vocais do jovem que estava revolucionando a maneira de cantar, dos nossos irmãos das Americas.

Embora com o "estatus" que gozava o príncipe dos cronistas brasileiros, entre os amigos e admiradores em nosso pais, alguns não estavam propensos a aceitar que um cantor chileno,fosse ele quem fosse,pudesse "acariciar"as palavras com a voz, quando cantasse.

Alem de tudo, tratava-se de um cantor de boleros... e o bolero naquela epóca,era

mal visto - ou mal ouvido - entre os nossos intelectuais,principalmente entre os amigos de Rubem Braga.

Entretanto, lá em Santiago do Chile, Lucho Gatica continuava a sua trajetória de êxitos cada vez maiores, completamente alheio aos comentários dos brasileiros, que viam no bolero, um invasor, pois havia invadido as paradas de sucessos das nossas radios,competindo com o Samba,o Baião, e até com a musica norte-americana,que tinha no cinema,o seu grande parceiro e divulgador.

Para Lucho Gatica, só havia uma musica que interessava, era o bolero principal mente o bolero que ele cantava...o seu bolero.

O jovem Luiz Gatica Silva, - seu nome completo - nasceu em Roncágua pequena cidade na região central do Chile, no dia 11 de agosto de 1928.

Seu pai era fazendeiro, mas morreu quando o menino tinha apenas três anos de idade.

Com a perda do pai ainda tão pequeno, o menino Lucho -apelido familiar -cresceu cercado do carinho da mãe e dos sete irmãos.

De todos os irmãos, o mais velho de nome Arthuro, chegou a iniciar-se na carreira de cantor, fazendo algumas apresentações na emissora de radio de Roncagua, que ficava próxima a casa da família Gatica. Com o crescimento do pequeno Lucho, logo todas as atenções se voltariam para ele,pela enorme facilidade que demonstrava em interpretar as canções folclóricas da região, que cantava para os visinhos.

O garoto ainda se lembra, de ir para a escola, cantarolando as canções que ouvia dos homens e mulheres do campo; mas sua paixão pelo bolero era maior.

Esta paixão pelo bolero ainda ocorria com a juventude chilena, e quando a

família Gatica mudou-se para Santiago do Chile,Arthuro e Lucho,os dois cantores da família renderam-se de forma definitiva ao bolero.

Com 17 anos de idade, Lucho ingressava na Universidade do Chile, logo apos terminar os estudos básicos. Da universidade, sairia com o diploma "odontotécnico" profissão que jamais iria exercer, pois foi prontamente absorvido pela musica que o apaixonava desde pequeno.

O ano de 1954 foi realmente muito importante para a carreira de Lucho. Foi neste ano que o cantor deixou o seu pais pela primeira vez, numa excursão artística que o levaria até a Argentina, escala inicial de uma temporada que teria inicio em Buenos Aires e se estenderia a outras capitais do continente.

Em Buenos Aires conheceria o maestro Roberto Ingles, pianista e arranjador de origem escocesa, que a gravadora Odeon, havia incumbido de fazer um estudo, da musica sul-americana, que a gravadora pretendia explorar melhor.

Roberto Inglês encantou-se com a voz e interpretação de Gatica, indo com ele até Santiago do Chile, onde se apresentaram ambos, na boate "La Carrera” com fenomenal sucesso. Com o aval de tanto respeito como de Roberto Inglês, a carreira de Gatica só podia dar no que deu: enorme aceitação e sucesso. Em todo o mundo.

Anteriormente o maestro Roberto Ingles, já havia gravado um disco especial com a cantora brasileira Dalva de Oliveira, um disco somente de tangos, mas o sucesso foi apenas relativo. Com Gatica ação do maestro escoces foi fundamental.

Lógo as musicas "Besame Mucho" e "Las Muchachas de la Plaza Espanã" começaram a ser tocadas nas radios de diversos paises, como:Argentina,Uruguai,Peru

Bolívia alem do Chile, naturalmente.

Em pouquíssimo tempo, Lucho Gatica era um nome internacional, sendo convidado a excursões por diveros paises do mundo, incluindo o Brasil; e a canção de Consuelo Velasquez, - Besame Mucho - transformou-se num êxito de vendagem de discos, sem precedentes na gravadora Odeon.

Demonstrando seu profundo respeito pela musica brasileira e também por seu povo, que tão bem o recepcionava quando das suas vindas ao nosso pais, Gatica acabaria gravando musicas de autores nacionais,como: Risque de Ari Barroso, Não tem Solução, de Dorival Caymmi, alem da tradicional "Casinha Pequenina".

Apesar do enorme sucesso, Gatica ainda não estava satisfeito. Sabia que, para não ser apenas "mais um” cantor de boleros no meio de tantos outros, tinha que conquitar o México e também Cuba, onde se encontravam os melhores cantores e compositores do gênero.

Ao chegar ao México, tinha absoluta consciência de que era muito difícil triunfar ali; mas sabia também que se o conseguisse, seria o primeiro forasteiro a consegui-lo.Suas primeiras apresentações na capital mexicana não foram muito animadoras.

Muito nacionalistas com relação a sua musica, os mexicanos eram quase insensíveis a vozes de outros paises interpretando a sua musica. No começo, fizeram até cara feia, aos recitais radiofônicos de Gatica, tendo a imprensa, tecido comentarios pouco lisonjeiros ao cantor e as suas qualidades.

Foi ai, que uma brilhante idéia do seu empresário veio reverter toda a situação:

Ao gravar o bolero "Contigo en la Distancia" resolveram usar no acompanhamento músicos mexicanos, muito conhecidos no pais.

Este estratagema deu tão certo que,apenas duas semanas após a gravação a musica já liderava todas as paradas de sucesso das rádios mexicanas. O bolero agora tinha um novo rei. Lucho Gatica passou a ser então, plenamente reconhecido por todos.

ELIS REGINA CARVALHO COSTA

Eram onze horas e trinta minutos, do dia 19 de Janeiro de 1982. Seria um dia normal e um horário como outro qualquer, sê dois homens desesperados não ascenassem para um táxi, numa das ruas dos jardins em S.Paulo. Esses homens traziam consigo uma manta, que envolvia um corpo humano. Este fato tornou-se histórico, porque o corpo embrulhado pertencia a Elis Regina Carvalho Costa, talvez a maior cantora brasileira dos últimos tempos.

Quinze minutos depois, Elis dava entrada no Hospital das Clinicas em S.Paulo, acompanhada por Samuel Macdowell e Marco Antonio Barbosa, colega de escritório de Samuel. Choques, massagens cardíacas foram inúteis. Elis Regina estava morta.

Na noite anterior, um grupo de amigos estivera no apartamento de Elis, até por volta de das 22 horas e á deixaram bem, permanecendo apenas ela e Samuel. Depois de jantarem, Samuel foi embora, meio brigado com ela. Segundo seu depoimento durante a madrugada ele telefonou diversas vezes, mas ninguém atendeu. Às 7 horas do dia seguinte, Samuel conseguiu falar com Elis pelo telefone, e segundo ele,enquanto falavam a voz da cantora foi ficando mole e pastosa; houve uma interrupção, e Samuel apavorado correu até o apartamento dela, e após arrombarem a porta, encontraram Elis estirada sobre a cama, já sem vida.

Elis Regina de Carvalho Costa, nasceu a 17 de março de 1945, em Porto Alegre bairro do IAPI, um aglomerado de casas simples de operários. Seus pais: Sr.Romeu e D. Ercy eram pessoas simples, e muito honradas, embora provincianas.

Elis sempre gostou muito de cantar, tanto que estreou aos doze anos num programa muito famoso, chamado -Clube do Guri - na radio Farroupilha de Porto Alegre. O apresentador se chamava Ary Rego, e durante 3 anos,foi a atração maior do “Clube do Guri”; até ser convidada para cantar profissionalmente. O repertório, até pela facilidade de Elis com outros idiomas, era composto por clássicos internacionais, em inglês, espanhol e francês. Alias, o idioma francês foi o responsável por um caso que retrata bem o preconceito vivido pela cantora,em sua terra natal.

Sua professora de idioma francês no Instituto de Educação, onde a menina estudava, disse que uma cantora de radio não teria suficiente dignidade para vergar o glorioso uniforme da escola. Motivo? Ela era uma cantora de rádio, portanto uma “puta” e mais: Se a mãe a deixava cantar no radio, deveria ser uma puta também.

Resultado: Ao saber da historia,a pequenina Elis procurou a professora e depois de lhe dar um sonoro “bofetão”disse: - “De mim, você fale o que quiser; mas de minha mãe você não fala desta maneira não!” Deste incidente nasceu em Elis, um trauma com relação a língua francesa, só superado muito tempo depois atravez de “análise”.

Elis Regina chegou ao Rio de Janeiro, em 31 de março de 1964. O sucesso foi imediato, já 1965 vencia o “I Festival de Musica Popular Brasileira” da TV Excelsior com a musica “Arrastão” de Edu Lobo. O resto da historia todos sabem. Foi de sucesso em sucesso, até acontecer o desenlace que narramos no inicio de nossa história.

Da “Pimentinha” - Apelido dado por Vinicius de Moraes - só restou uma imensa saudade. A saudade e os discos. Dela disse alguém: - “Era uma baixinha complicada. Uma verdadeira “pimentinha”, mas cantava como ninguém. A voz era como um instrumento de sopro, um instrumento maravilhoso, de sonoridade sem igual.”

O ESPELHO DE DEUS

Esta historia é dedicada as mães que possuem um filho deficiente.

Segundo as estatísticas, grande parte das mulheres,tornam-se mães por puro acidente. Outras por opção, algumas poucas por pressões sociais,e um punhado delas por hábito.

Ainda segundo a mesma fonte, cerca de cem mil mulheres este ano,se tornarão mães de bebes com alguma deficiência física. E ai,me ocorre a seguinte questão : De que forma as mães destes bebes defeituosos serão escolhidas por Deus ? Quais os sábios critérios que serão adotados – dentro daquele principio de absoluta justiça como são as coisas provenientes de Deus - ,para uma escolha certa e justa nesta existência já tão conturbada problemática e as vezes tão difícil de ser aceita como é a nossa vida?

Tentemos imaginar Deus pairando sobre a Terra, cercado por seus anjos e fazendo a seleção das mães,naturalmente dentro daquele critério próprio a um Deus,plenamente soberano e sábio,extremamente justo e tolerante com seus filhos já tão sofridos e carentes nesta vida.

Ele escolhe com critério e deliberação,cercado por seus anjos,que carregam um grande livro, próprio para as anotações onde serão registradas as novas mães escolhidas cada uma com as características do bebe que virá. Ele diz :

- Bete da Silva – receberá um filho. O santo protetor será S. Mateus.

- Joana Rodrigues – receberá um filho. A protetora será Santa Cecília. Os anjos vão escrevendo tudo,cuidadosamente.

- Ana Lucia Gomes – receberá gêmeos.” Santo protetor...dê a ela S. Geraldo...ele esta acostumado a ouvir impropérios... ( Deus Faz esta observação com um ar de rizo)

Depois ele passa um novo nome a um anjo,e diz : “A esta dê um filho cégo..” Mas senhor porque a ela ? Justamente a ela que é tão feliz,esta sempre sorrindo..- estranha o anjo-.

-“Exatamente por isso”, responde Deus. “Como eu poderia confiar uma criança com tal deficiência, a uma mãe que não soubesse sorrir? Isso seria uma enorme crueldade.

Será que ela terá paciência suficiente? Pergunta o anjo.

“-Eu não quero que ela tenha paciência suficiente,porque é justamente a paciência que ela vai aprender a desenvolver,junto a esta criança. Quando o choque e o ressentimen-to passarem, logo após o nascimento ela vai aprender a lidar com a situação.

- Senhor – disse o anjo - pelas nossas anotações,achamos que ela nem acredita na sua existência... Deus sorri,e responde calmamente ;

“ Isso não importa. Esta é uma situação fácil de resolver; ela é perfeita para este caso,pois tem a doze certa de egoísmo.”

O anjo volta a se surpreender: “Senhor,desde quando egoísmo é virtude?

Deus balança a cabeça calmamente e diz : “ Se ela não conseguir se separar da criança de vez em quando,para cuidar um pouco de si mesma,não vai sobreviver. Alem disso,se por um excesso de dedicação ela superproteger o menino,criará um ser fragilisado extremamente dependente. Sim,aqui está uma mulher que eu abençoarei com um filho imperfeito,embora ela provavelmente levará muito tempo para descobrir as bênçãos que tal filho lhe trará. Logo ela deixará de achar –como a maioria das pessoas acham – que os progressos e conquistas das crianças,são coisas naturais,e passará a valoriza-las como uma fonte de profunda alegria.

Passará a vibrar com cada passo que seu pequeno filho der,com cada palavra que ele disser. Quando a criança conseguir dizer “Mamãe” pela primeira vez,ela chorará de alegria,e embevecida,pensará estar presenciando um verdadeiro milagre,e então agradeci

da lembrará de Deus – mesmo achando que não crê nele – para bendize-lo.

Logo,estará tentando descrever para o filhinho cego,as belezas de uma flor,a poesia que existe num vôo de pássaro,ou ainda as cores maravilhosas de um por de sol.

Ela,esta mãe meu caro Anjo,Vera então as minhas criações com olhos que nenhuma outra criatura ainda viu. Os perfumes irão inebriar o seu olfato,quando na ânsia de transmitir ao filho querido ela perceber a importância que os cinco sentidos possuem para as criaturas humanas.

Vou,meu caro anjo,permitir que esta mãe perceba claramente,a ignorância,a crueldade,o preconceito contra seu pequeno filho,para que ela tenha a sublime oportunida

de de ser superior a todas estas inferioridades humanas.

Então,a partir daí,eu jamais a deixarei sosinha. Todos os dias de sua vida,em cada minuto,sempre estarei com ela amparando-a,assim como me manifestando em cada ato de amor e coragem que ela praticar.

Ê senhor,qual será então o santo protetor deste menino que cego irá nascer? –pergunta o anjo com a caneta pronta para a anotação.

Deus,o supremo criador de todas as coisas sorri mansamente e responde :

“ Um espelho meu caro Anjo. Apenas um espelho bastará para que sua mãe veja o seu Anjo protetor.”

(* Esta historia foi adaptada de uma narrativa da escritora Erma Bombeck)

COMO SE GRAVAVA DISCOS ANTIGAMENTE

Hoje, quando você comodamente instalado em sua poltrona, ou mesmo dentro de seu carro aciona o dispositivo que da inicio a reprodução do seu “CD” predileto, e

houve aquele som magnífico, límpido, puro, provavelmente não será capaz de explicar como tudo isso começou. Isto é bem compreensível; porque você não tem necessidade de saber todos estes detalhes técnicos. O que você deve, isto sim, é aproveitar ao máximo, o conforto que a gravação moderna oferece. Mas se tem curiosidade em saber como tudo começou, vamos fazer um pequeno relato de como era o processo de gravação de discos em nosso pais, no inicio do século passado, ainda no sistema de gravação mecânica.

Segundo o historiador Walter Teixeira Alves, a gravação mecânica perdurou no Brasil até 1927. Este sistema em uma descrição simples, consistia em cantar em um grande “Funil” que tinha a função básica de canalizar o som para o aparelho grava

dor. O interprete, e os músicos que o acompanhavam, ficavam o mais próximo possi vel deste funil e deviam cantar e tocar o mais alto que podiam;só assim as vibrações sonoras percorrendo o ar e entrando funil adentro,tinham a força necessária para fazer com que a agulha imprimisse sulcos num disco de cera de carnaúba ,pré amoleci

do colocado num prato giratório, ao lado do aparelho. Como esta impressão se dava exclusivamente pela mecânica do ar e a custa de grande esforço na emissão da voz e do som dos instrumentos, este sistema passou a ser chamado de gravação mecânica.

A reprodução destes discos era feita por gramofones, no sentido inverso das grava

ções, e também de forma mecânica, tendo uma particularidade: O gramofone não possuía regulagem da altura do som, sendo este efeito conseguido apenas, atravez do tipo da agulha utilizada, a agulha mais grossa e curva possibilitava som mais alto.

A gravação elétrica chegou ao Brasil em 1927, sendo Francisco Alves o primeiro cantor a servir-se desta técnica. Este sistema facilitou muito as interpretações, que a partir daí, passaram a ser mais bem cuidadas, porque o microfone elétrico levava os impulsos sonoros com maior facilidade e fidelidade a agulha que imprimia os sulcos na cera, evitando esforços desnecessários e prejudiciais ao interprete.

No processo mecânico os cantores e músicos envolvidos na gravação, somente tomavam conhecimento do resultado do seu trabalho, um mês depois, por ser este o praso médio para o lançamento de um disco. Também era necessário por parte dos técnicos um cuidado extremo com o trato com o disco de cera da matriz, porque ao menor toque ela se inutilizava por ser o material muito mole. Gravava-se ao vivo e sem nenhuma possibilidade de emendas, tudo em um único canal. Hoje, grava-se ate em 48 canais. Uma das maiores preocupações era de não errar, e também o tempo de 3 minutos que era a duração media da gravação em uma face do disco. Todos ficavam de olho num dispositivo composto por uma cordinha com um peso na ponta, que descia até um plano horizontal. A aproximação deste peso ao plano, indicava o termino do tempo da gravação, fazendo todos se apressarem para que a música coubesse no disco.

Embora com todas estas limitações, muitas gravações antigas apresentam um alto grau de qualidade, fato que nos faz imaginar que “proezas” fariam estes artistas deste tempo, se pudessem contar com as facilidades e a alta tecnologia dos dias atuais.

MEU IRMÃO, CAMARADA...

A composição de Roberto e Erasmo Carlos, que tem por título ¨Amigo¨, fez muito sucesso e é conhecida praticamente no mundo todo. Até para o Papa, ela já foi cantada pelas crianças mexicanas,quando o sumo-pontifice visitou aquele pais. Erasmo Carlos em seu livro Minha fama de Mau, conta que ele e Roberto Carlos,quando estão compondo,criam diversos temas de diversos ritmos, e que não são aproveitados na musica principal, tais como samba, toada, blues, que vão nascendo de forma natural e que são guardadas numa espécie de Baú para serem eventualmente usadas, em outra oportunidade. Às vezes são derivações do mesmo tema, outras vezes não.

Para isso o material é gravado, e fica repousando no arquivo de ambos, que sempre é consultado por ocasião de encontrarem alguma dificuldade, quando estiverem fazendo um trabalho novo, onde uma rima não se encaixa, ou a linha melódica custa a surgir.

Foi isso que aconteceu no ano de 1977, quando Roberto e Nice estavam casados,

e haviam voltado recentemente dos Estados Unidos,onde o ¨REI¨ havia ido gravar seu ultimo disco. Nice, mulher de Roberto, telefonou para Narinha, mulher de Erasmo, confidenciando que Roberto fizera uma música para homenagear Erasmo,(cujo princípio musical Roberto havia extraído do baú de ambos) mas pediu que Narinha não contasse nada, pois seria uma surpresa. Todos os anos eles iam aos Estados Unidos onde Roberto gravava seus discos, e onde também Erasmo terminava algumas das letras que estavam incompletas. Desta vez Erasmo não foi, e Roberto fez sozinho a musica que queria mostrar ao amigo, e da qual havia trazido uma fita. Combinaram que iriam a noite a casa de Erasmo,.e Nice achava que Erasmo iria adorar a surpresa.

Após desligar o telefone, Narinha gritou lá da saleta: - Puiu (apelido do Erasmo) o Roberto vem aqui hoje, pra mostrar o novo disco pra você. ¨

Erasmo lembra que nesta época morava na Avenida Vieira Souto, de frente para o mar de Ipanema. Do segundo andar, onde ficava seu apartamento, podiam ver a avenida, alem de ouvir o ruído das ondas lá em baixo. Lá pelas nove horas, o carrão do Roberto virou a esquina e entrou na garagem do prédio.

Após jantarem, puseram as crianças para dormir, e foram para a sala de musica.Apa

garam as luzes,para ouvir melhor. Erasmo embora nada soubesse da surpresa, se recorda de poucas vezes haver visto Roberto tão empolgado como naquela noite. Primeiro ouviram diversas musicas do novo disco que logo seria lançado: ¨Cavalgada¨,

¨Muito Romantico¨, ¨Jovens tardes de Domingo¨ foram algumas delas. A certa altura,

Roberto disse: - ¨Bicho, fiz esta musica aqui desta fita,para homenagear uma pessoa m

uito querida,que eu gosto muito. Bota a fita ai,que estou doido pra ouvir¨.

Erasmo apertou o play,e imediatamente os metais da introdução ecoaram pelo aparta

mento todo, surpreendendo todos os ouvidos,numa alegria contagiante que induzia Erasmo a balançar o corpo,ao ritmo da musica. Ai começou então:

Você meu amigo de fé, meu irmão camarada...

Amigo de tantos caminhos, de tantas jornadas...

Cabeça de homem, mas o coração de menino...

Aquele que esta ao meu lado em qualquer caminhada...

Talvez por distração, Erasmo ao ouvir os primeiros versos, não percebeu que o homenageado era ele,pensando inicialmente tratar-se de ¨seu¨ Robertino,pai de Roberto.

Ficou pensando : ¨Caramba, esta letra toca minha alma. É uma historia de dois grandes amigos... Nesta hora entendi tudo..Se não era ¨seu Robertino...só podia ser eu!

Narinha se aproximou e me deu um beijo..Olhei para o Roberto, e vi uma expressão de

plena felicidade em seu rosto. Não tive mais duvidas o amigo da musica era eu!