quarta-feira, 26 de maio de 2010

A INIMIGA DA MINHA AVÓ

A história de vida de outras pessoas se bem observadas, podem nos ajudar a corrigir erros, iluminar nosso coração, nos fornecer um abrigo psicológico que promova mudanças intimas e de conduta, e até curar algumas feridas que tenhamos em nossa alma sofrida.

A escritora norte-americana Louise Dickinson Rich conta, em um de seus livros, uma historia muito interessante, vivida pela sua avó, que por entendermos de valor pratico para todos nos,passamos a transcrever:

-“Minha avó,tinha uma inimiga chamada senhoraWilcox. Quando eram recem casadas,mudaram-se para casas visinhas,na pequena cidade em que viviam,no norte dos Estados Unidos.

Quem, ou oque começou a “guerra” entre ambas, eu não sei – foi muito antes de eu nascer - e também não sei se quando eu nasci, uns trinta anos depois, elas ainda se lembravam de quem começara. Mas a batalha entre as duas velhas senhoras conti nuava cada vez mais renhida, e como toda briga que se preza, sem nenhuma educação de ambas as partes. Nada, nem ninguém na velha cidade escapou as suas conseqüên

cias.

A própria igreja de quase trezentos anos, que havia sobrevivido a revolução e a guerra civil, quase veio abaixo,quando vovó e a senhora Wilcox resolveram ambas candidatar-se a presidência da Liga das Senhoras. Vovó ganhou este combate, mais foi uma vitória que ela não pode usufruir, pois a senhora Wilcox ao ver-se derrotada, imediatamente demitiu-se da Liga, num acesso de raiva. E qual é a graça de dirigir alguma coisa, se você não pode humilhar sua inimiga mortal, não é verdade?

A senhora Wilcox, entretanto venceu, dias depois, a batalha da Bibioteca Publi

ca,quando conseguiu que a sobrinha Gertrudes fosse indicada como bibliotecária, no

lugar de minha tia Philips, também pretendente ao cargo.

No dia que Gertrudes assumiu o posto, vovó parou de retirar livros da bibiote

ca,alegando que “estavam cheios de germes” e passou a comprar os livros que queria ler. Nunca mais retirou um só livro, na Biblioteca Publica.

A batalha da escola Secundaria terminaria empatada. O diretor pediu demi ssão antes da senhora Wilcox o tirasse de lá, ou que vovó, com suas manobras, lá o mantivesse eternamente.

Alem das batalhas mais serias, que aconteciam constantemente, haviam ainda

as de menor importância. Quando éramos crianças e visitávamos a vovó, parte da nossa ocupação, consistia em provocar os netos da senhora Wilcox, fazendo caretas, e outros gestos, que - a bem da verdade – eram revidados com igual virulência. Adorávamos, apanhar as uvas da cerca que ficavam do lado dos Wilcox, por exemplo.

Corríamos atraz das galinhas, e púnhamos bombinhas nos trilhos do bonde, na

esperança que a velha Wilcox levasse um susto fatal.

Num dia histórico, eu e meus primos, colocamos uma cobra na calha de chuva dos Wicox. Minha avó, neste dia ensaiou uma reprimenda, mas foi tão amena que mal conseguia conter o rizinho de muita satisfação.

Mas não pensem que só havia um lado nesta guerra. Os pestinhas dos netos da senhora Wilcox, certo dia, colocaram um gambá no porão da casa de vovó que tornou o oxigênio da casa quase irrespirável, e esta foi uma das agressões mais suaves que praticaram.

Talvez vovó não tivesse suportado todos estes problemas, se não fosse pela coluna do“Diário de Boston” que possuía uma pagina feminina, que alem das dicas de cozinha,receitas,conselhos sobre limpeza etc tinha também uma secção,ondeas leitoras

atravez da troca de cartas podiam confidenciar os seus problemas. Para que o anoni mato fosse mantido, as cartas eram assinadas com um pseudônimo. O de vovó era Arbusto.

Muitas vezes, exposto o primeiro problema, as leitoras ficavam trocando cartas durante anos, falando sobre os filhos, doces em conserva, ou outras coisas.

Com vovó, aconteceu isso. Ela e uma mulher chamada “Gaivota” se correspon

deram por vinte cinco anos atravez do jornal. Tinham uma completa afinidade, eram amigas do coração realmente.

Quando eu completei 16 anos, subitamente, a senhora Wicox morreu.

Com vovó à frente, a nossa família toda atravessou o gramado, e foi prestar solidariedade a familiaWilcox. Depois de dar os pêsames as filhas da senhora Wilcox, vovó começou a ajudar na limpeza da sala,que receberia daí a instantes o caixão e o corpo da falecida, para o velório.

De repente, vovó viu num lugar de destaque e aberto sobre a mesa, um enorme álbum de recortes, com as mensagens coladas, com muito carinho, as mensagens escritas por ela para Gaivota, e as de Gaivota para ela.

Por mais de vinte e cinco anos, sem que ela soubesse, a sua maior inimiga, foi a sua confidente, a sua amiga querida. A senhora Wincox era Gaivota.

Esta história retrata bem aquelas peças que o destino às vezes nos prega, talvez para que percebamos que pouco ou quase nada sabemos sobre estas criaturas incrí veis que são os nossos semelhantes.

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